Resumo

O presente trabalho tem como objetivo analisar o simbolismo cultural presente na Festa do Boi, realizada no Morro do Querosene, na zona oeste de São Paulo, e compreender como essa festividade contribui para a difusão da cultura popular brasileira. A pesquisa busca entender como o evento, por meio do entretenimento e da recreação, funciona como um meio de resgate e preservação das tradições culturais, tendo como foco central os frequentadores e observadores da festa.

No contexto do curso de Guia de Turismo, torna-se essencial investigar o papel de eventos culturais na valorização do patrimônio imaterial, considerando que a prática turística não se limita apenas à visitação de espaços físicos, mas também à vivência de experiências culturais que conectam o público às raízes de um povo. A Festa do Boi se apresenta como uma importante manifestação da cultura popular, oferecendo uma oportunidade única para os guias de turismo enriquecerem suas abordagens, promovendo o turismo cultural e contribuindo para a valorização de expressões tradicionais no cenário globalizado.

A pesquisa se propõe a explorar a percepção dos frequentadores sobre o evento, examinando suas origens geográficas — bairro, cidade, estado — e investigando se associam a festa a tradições do Norte ou Nordeste do Brasil. Além disso, será feita uma comparação entre as concepções de cultura popular expressas pelos participantes e as perspectivas teóricas de autores da área.

Adotando uma abordagem exploratória e utilizando a história oral como método, busca-se aprofundar a compreensão sobre a relevância cultural e turística da Festa do Boi, evidenciando sua contribuição para a preservação e difusão da identidade cultural brasileira. O estudo reforça a importância de festividades como esta no fortalecimento do turismo cultural, ampliando as possibilidades de conexão entre visitantes e as diversas expressões da cultura nacional.

Palavras-chave: Festa do Boi, Cultura Popular Brasileira, Turismo Cultural, Patrimônio Imaterial.

Abstract

This study aims to analyze the cultural symbolism present in the Festa do Boi, held at Morro do Querosene in the west zone of São Paulo, and to understand how this festivity contributes to the dissemination of Brazilian popular culture. The research seeks to explore how the event, through entertainment and recreation, serves as a means of preserving and revitalizing cultural traditions, with a central focus on its attendees and observers.

In the context of the Tourism Guide program, it is essential to investigate the role of cultural events in valuing intangible heritage, recognizing that tourism practices extend beyond the mere visitation of physical sites to include immersive cultural experiences that connect audiences to a community’s roots. The Festa do Boi emerges as a significant manifestation of popular culture, offering a unique opportunity for tourism guides to enrich their narratives, promote cultural tourism, and contribute to the appreciation of traditional expressions in a globalized world.

This research explores attendees' perceptions of the event, examining their geographic origins—neighborhood, city, and state—and whether they associate the festivity with traditions from Brazil's North or Northeast regions. Furthermore, it compares the concepts of popular culture articulated by attendees with theoretical perspectives from scholars in the field.

Using an exploratory approach and oral history as a method, the study seeks to deepen the understanding of the cultural and touristic significance of the Festa do Boi, highlighting its role in preserving and disseminating Brazilian cultural identity. This research emphasizes the importance of such festivities in strengthening cultural tourism, enhancing the connection between visitors and the diverse expressions of national culture.

Keywords: Festa do Boi, Brazilian Popular Culture, Cultural Tourism, Intangible Heritage.

Introdução

A cultura popular é um objeto de estudo muito debatido e com diversas definições a serem interpretadas, e que merecem diversas reflexões em torno de seus significados no meio urbano e seu uso no entretenimento de uma cidade, como São Paulo, a identidade de festivos populares produzem um sentimento de identidade, de acordo com Guss (2000, p. 9-14) "as festas e os patrimônios constituem-se em campos de batalha em que diferentes grupos pleiteiam interesses identitários" (apud OSORIO, 2017, p. 32).

As manifestações culturais desempenham um papel fundamental na construção da identidade de um povo, refletindo suas tradições, crenças e história. Em um país tão diverso como o Brasil, as festividades populares representam uma rica expressão de suas múltiplas culturas regionais. Nesse contexto, a Festa do Boi, realizada no Morro do Querosene, na zona oeste de São Paulo, destaca-se como um evento que celebra e preserva elementos da cultura popular brasileira, resgatando tradições e conectando diferentes comunidades em um ambiente de celebração e troca cultural.

Uma festividade como a Festa do Boi do Morro do Querosene pode atrair diferentes indivíduos que buscam o popular como forma de desfrute do lúdico, tendo uma característica de ser um evento de manifestação popular típica do Brasil e conter raízes de muitas gerações passadas, em uma cidade global e cosmopolita, esse modelo de evento carrega uma grande atratividade para o público paulistano, esse evento pode se mostrar como um atrativo turístico para a metrópole mas sem perder sua identidade singular, algo que ocorre em manifestações culturais que embarcam no turismo como fonte de projeção, visto que para Luchiari (2000, pg 106) “o turismo pode, então, induzir à produção de atrações inventadas a partir da cultura local, nas quais há uma valorização excessiva da técnica em detrimento da própria autenticidade” (apud DIAS, 2007, p. 26).

O problema de pesquisa que orienta este estudo é entender como os frequentadores da Festa do Boi percebem e interpretam o evento em termos de cultura popular. Este questionamento permite analisar a relevância do festejo enquanto agente de preservação cultural e seu papel no fortalecimento da identidade brasileira. Parte-se da hipótese de que o evento, ao integrar diferentes grupos sociais e culturais, contribui para a valorização das tradições nordestinas e nortistas em uma grande metrópole como São Paulo.

Os objetivos do trabalho são investigar a percepção dos frequentadores sobre a Festa do Boi, identificar suas origens geográficas e verificar se associam o evento a tradições do Norte ou Nordeste do Brasil. Adicionalmente, pretende-se comparar as concepções de cultura popular dos participantes com as teorias de autores renomados na área.

Para atingir esses objetivos, será adotada uma metodologia exploratória, com base na história oral. O uso dessa abordagem permite capturar relatos e narrativas individuais, essenciais para compreender as diversas perspectivas sobre o evento. Além disso, a pesquisa envolverá observação participante e análise documental para enriquecer a compreensão do fenômeno estudado.

A escolha da Festa do Boi como objeto de estudo não é aleatória. Trata-se de uma festividade que carrega um forte simbolismo cultural, representando práticas e expressões artísticas que remontam às raízes da cultura brasileira. Seu estudo contribui para a formação de guias de turismo mais conscientes e preparados para promover o turismo cultural, agregando valor às experiências oferecidas aos turistas.

O turismo cultural tem ganhado destaque no cenário contemporâneo, à medida que os viajantes buscam vivências autênticas que os conectem à cultura local. Nesse sentido, eventos como a Festa do Boi oferecem um campo fértil para a atuação dos guias de turismo, que podem atuar como mediadores entre o público e a riqueza cultural do país.

Dada a relevância do tema, este trabalho busca não apenas aprofundar o entendimento sobre a Festa do Boi, mas também destacar a importância de festividades culturais no fortalecimento do turismo e na valorização das identidades locais. A pesquisa pretende contribuir para a formação de uma prática turística mais consciente e comprometida com a preservação das manifestações culturais brasileiras.

Assim, este estudo se insere em um contexto mais amplo de valorização do patrimônio imaterial e da promoção de um turismo sustentável, que respeite e celebre as culturas locais. Ao longo do trabalho, espera-se evidenciar como a Festa do Boi se configura como uma ferramenta essencial na difusão da cultura popular e no fortalecimento das tradições brasileiras em um ambiente globalizado.

Desenvolvimento

Fundamentação Teórica

A análise das festividades culturais requer um aprofundamento teórico em temas como cultura popular, turismo cultural e patrimônio imaterial, áreas que estão intimamente conectadas e que ajudam a contextualizar o papel dessas celebrações no cenário contemporâneo. De acordo com Hall (2003), cultura popular refere-se às práticas e expressões culturais que emergem do cotidiano das comunidades, refletindo suas crenças, tradições e modos de vida. Tais manifestações são dinâmicas e constantemente ressignificadas, acompanhando as transformações sociais, mas sem perder de vista suas raízes históricas. Eventos como a Festa do Boi exemplificam essas práticas, funcionando como mecanismos de resistência cultural em um mundo globalizado, onde a homogeneização cultural ameaça diluir tradições locais.

A Festa do Boi é particularmente rica em simbolismos, integrando elementos musicais, cênicos e narrativos que remetem às tradições do Norte e Nordeste do Brasil, regiões onde o folclore e as festividades populares desempenham um papel central na formação da identidade cultural. Segundo Canclini (1995), a cultura popular não apenas reflete a identidade de um povo, mas também serve como uma ferramenta de contestação e reafirmação frente às forças globalizantes. Nesse sentido, festas populares como a do Boi ajudam a preservar memórias coletivas e a transmitir valores culturais de geração em geração, mesmo em contextos urbanos como São Paulo.

Além disso, a relação entre cultura popular e resistência cultural é destacada por autores como Geertz (1989), que argumenta que as festividades tradicionais operam como textos culturais, nos quais as comunidades leem e escrevem suas histórias, anseios e resistências. No caso da Festa do Boi, o evento atua como um espaço de negociação entre tradição e modernidade, permitindo que seus participantes celebrem sua herança cultural enquanto interagem com um público diversificado e cosmopolita.

A análise do turismo cultural também se mostra fundamental nesse contexto. Segundo Richards (2007), o turismo cultural não apenas promove o intercâmbio entre diferentes culturas, mas também desempenha um papel significativo na valorização e preservação do patrimônio cultural. Festividades como a Festa do Boi atraem tanto moradores locais quanto turistas, proporcionando uma experiência que combina entretenimento e educação cultural. Esse tipo de turismo oferece uma oportunidade única de vivenciar tradições autênticas, ao mesmo tempo em que fortalece as economias locais e promove a conscientização sobre a importância do patrimônio imaterial.

Por fim, o conceito de patrimônio imaterial, conforme definido pela UNESCO (2003), engloba práticas, representações, expressões, conhecimentos e habilidades que comunidades, grupos e, em alguns casos, indivíduos reconhecem como parte de seu patrimônio cultural. A Festa do Boi se insere perfeitamente nesse escopo, pois incorpora uma rica tapeçaria de tradições que são preservadas e transmitidas ao longo do tempo. Como aponta Barbosa (2011), o reconhecimento e a valorização do patrimônio imaterial são essenciais para garantir que essas práticas culturais continuem a prosperar em meio às pressões de um mundo em constante mudança.

Assim, a Festa do Boi não é apenas um evento de celebração, mas também um exemplo vívido de como a cultura popular, o turismo cultural e o patrimônio imaterial podem interagir de maneira significativa, promovendo a preservação e a reinvenção das identidades culturais em um cenário globalizado.

Cultura Popular e Identidade

A identidade cultural é um componente central na preservação e valorização da cultura popular, funcionando como um elo que conecta as pessoas às suas origens, tradições e valores. Segundo Canclini (1995), as festividades tradicionais desempenham um papel vital na construção e reafirmação das identidades locais, pois envolvem elementos simbólicos que resgatam a história e os valores das comunidades. Esses eventos não apenas reforçam o senso de pertencimento, mas também criam um espaço de resistência cultural, onde a memória coletiva é celebrada e preservada.

A Festa do Boi, com sua música, dança e encenações, é um exemplo claro dessa manifestação, especialmente em um ambiente urbano como São Paulo, onde a diversidade cultural é imensa e frequentemente desafiada pela modernização e globalização. Em contextos metropolitanos, onde a convivência entre diferentes culturas é intensa, a preservação de tradições como a do boi ajuda a manter vivas as raízes culturais das comunidades que ali residem. Isso é particularmente relevante em bairros como o Morro do Querosene, onde a Festa do Boi funciona como um ponto de convergência cultural, unindo descendentes de nortistas e nordestinos a moradores de outras origens, criando uma rica tapeçaria de identidades culturais interligadas.

Hall (1992) aponta que a identidade cultural é constantemente negociada e reconstruída, especialmente em contextos multiculturais. A Festa do Boi exemplifica essa dinâmica, ao permitir que diferentes grupos se reconheçam na celebração, ao mesmo tempo em que preservam elementos autênticos de suas tradições regionais. Essa capacidade de adaptação e reinvenção é o que torna a cultura popular uma força viva e resiliente, capaz de sobreviver e prosperar em cenários de rápidas mudanças sociais e culturais.

Além disso, a festa desempenha um papel crucial no fortalecimento do sentimento de pertencimento. Como afirmado por Bhabha (1994), a identidade cultural é construída no "entre-lugar", ou seja, no espaço onde diferentes culturas interagem e influenciam umas às outras. A Festa do Boi oferece esse espaço, ao reunir elementos típicos das culturas do Norte e Nordeste do Brasil com o cenário urbano paulistano, criando uma nova forma de expressão cultural que é, ao mesmo tempo, tradicional e contemporânea.

Através da música, das danças e das encenações, a festa não apenas celebra a identidade cultural de seus participantes, mas também educa o público mais amplo sobre a riqueza da cultura popular brasileira. As performances teatrais e musicais, por exemplo, carregam narrativas que refletem a luta, a alegria e a história de um povo, tornando-se uma poderosa ferramenta de conscientização e empoderamento cultural.

Portanto, a Festa do Boi é muito mais do que um evento de entretenimento; é um ato de preservação cultural e reafirmação identitária. Em um mundo cada vez mais globalizado, onde tradições locais podem ser facilmente marginalizadas, eventos como este desempenham um papel crucial em manter vivas as vozes e histórias das comunidades que os originaram. Assim, ao fortalecer as identidades locais e promover a diversidade cultural, a Festa do Boi contribui não apenas para a preservação da cultura popular, mas também para o enriquecimento do patrimônio cultural brasileiro como um todo.

Turismo Cultural e Patrimônio Imaterial

O turismo cultural é uma modalidade que permite aos visitantes vivenciarem experiências autênticas, aproximando-os das práticas culturais locais e proporcionando um entendimento mais profundo das tradições e histórias de uma região. Esse tipo de turismo vai além da simples apreciação estética ou recreativa, promovendo uma interação significativa entre o visitante e a cultura do destino. Segundo Barbosa (2011), o turismo cultural contribui de maneira decisiva para a valorização do patrimônio imaterial, que inclui práticas, saberes e expressões culturais transmitidas de geração em geração, como danças, festas, gastronomia e artesanato.

O conceito de patrimônio imaterial, conforme definido pela UNESCO (2003), engloba os elementos intangíveis da cultura que são essenciais para a identidade de um povo. Esses elementos, ao contrário dos patrimônios tangíveis como monumentos e edificações, existem em práticas vivas, que dependem da continuidade da transmissão e da prática cultural para sua preservação. No caso da Festa do Boi, sua relevância transcende o mero entretenimento, funcionando como um ponto de conexão vital entre o público e a herança cultural brasileira, especialmente em um ambiente urbano diversificado como São Paulo.

A Festa do Boi não apenas celebra tradições culturais originárias do Norte e Nordeste do Brasil, mas também as adapta ao contexto paulistano, criando um evento culturalmente híbrido. Essa dinâmica enriquece tanto os participantes locais quanto os visitantes, oferecendo uma experiência que é, ao mesmo tempo, educativa e transformadora. Para muitos turistas, participar de eventos como este representa uma oportunidade única de vivenciar aspectos genuínos da cultura brasileira, muitas vezes desconhecidos ou pouco explorados em outros contextos turísticos mais convencionais.

Além disso, o turismo cultural desempenha um papel importante na economia local, gerando empregos e incentivando a produção de bens e serviços relacionados à cultura. Como observa Richards (2007), o turismo cultural não apenas valoriza o patrimônio, mas também estimula o desenvolvimento sustentável das comunidades anfitriãs, promovendo a consciência coletiva sobre a importância de preservar essas tradições. No caso da Festa do Boi, isso se traduz no fortalecimento de redes locais, como grupos artísticos, artesãos e comerciantes, que encontram no evento uma plataforma para exibir e valorizar seu trabalho.

Outro aspecto relevante é o impacto positivo do turismo cultural na educação e sensibilização do público. Ao participar de eventos como a Festa do Boi, os visitantes não apenas desfrutam das performances e celebrações, mas também aprendem sobre os significados históricos, sociais e espirituais que essas manifestações carregam. Dessa forma, o evento contribui para o reconhecimento e respeito pela diversidade cultural, elemento fundamental em uma sociedade plural como a brasileira.

Por fim, é importante destacar que a Festa do Boi atua como um poderoso instrumento de inclusão cultural. Ao abrir suas portas para públicos diversos, a festa cria um ambiente onde pessoas de diferentes origens e contextos sociais podem se encontrar, interagir e aprender umas com as outras. Isso reforça a ideia de que o patrimônio imaterial não é algo fixo ou exclusivo, mas sim um recurso vivo e compartilhado, que cresce e se transforma por meio da participação coletiva. Portanto, a Festa do Boi exemplifica como o turismo cultural pode ser uma ferramenta eficaz para preservar e celebrar o patrimônio imaterial, ao mesmo tempo em que promove a coesão social e o desenvolvimento sustentável.

Metodologia

A abordagem metodológica adotada combina pesquisa exploratória e história oral, permitindo uma análise detalhada e multifacetada do objeto de estudo. A pesquisa exploratória, segundo Gil (2008), é essencial para proporcionar maior familiaridade com o tema, especialmente em áreas onde o conhecimento ainda não está completamente consolidado. Essa abordagem possibilita a identificação de aspectos fundamentais para a compreensão do fenômeno, como a relevância cultural da Festa do Boi e sua contribuição para o turismo cultural.

Além disso, a história oral desempenha um papel central neste estudo. Segundo Thompson (1998), a história oral é uma ferramenta poderosa para captar narrativas e percepções individuais, proporcionando uma compreensão mais profunda das experiências e interpretações dos sujeitos envolvidos. No contexto deste trabalho, as entrevistas semiestruturadas realizadas com frequentadores da Festa do Boi foram fundamentais para acessar as múltiplas camadas de significados atribuídos ao evento. A técnica permitiu que os entrevistados compartilhassem não apenas suas opiniões sobre a festa, mas também suas memórias, emoções e conexões pessoais com a cultura popular.

O estudo também incluiu a análise documental e observação participante. A análise documental abrangeu materiais como folhetos e cartazes. Já a observação participante permitiu ao pesquisador vivenciar o evento diretamente, capturando detalhes que dificilmente seriam obtidos por outros métodos, como a interação espontânea entre os participantes, as performances culturais e a ambientação do evento.

A coleta de dados foi realizada em duas etapas principais. Na primeira, foram conduzidas entrevistas com 20 frequentadores selecionados aleatoriamente durante diferentes momentos da festa, com foco em compreender suas percepções e associações culturais. Na segunda etapa, a observação participante foi realizada durante todo o evento, com anotações detalhadas sobre a dinâmica do evento, o público presente e os elementos culturais destacados.

Por fim, os dados qualitativos obtidos foram analisados por meio de análise de conteúdo, conforme orientado por Bardin (2011), para identificar padrões, temas recorrentes e divergências nas narrativas dos entrevistados. Essa combinação de métodos proporcionou uma visão abrangente e integrada sobre o impacto e a significância da Festa do Boi, garantindo maior rigor e profundidade à pesquisa.

JUSTIFICATIVA

Esse projeto foi motivado ao observar uma lacuna em pesquisas que foquem na concepção de cultura popular pelos frequentadores da Festa do Boi no Morro do Querosene (Vila Pirajussara) em São Paulo – SP, e pelo interesse em comum de analisar a festa devido sua relevância na expressão da cultura popular brasileira, sendo difusora de tal expressão tanto para os moradores do entorno quanto para visitantes de toda cidade, levando em conta a diversidade da população do município, que abriga pessoas de todo o país – e mundo. Para isso, o projeto visa verificar a origem de seus frequentadores, se associam a festa a algum local do norte ou nordeste do país, e suas concepções sobre cultura popular, traçando paralelos com autores da área. 

Sujeitos da Pesquisa: Frequentadores da Festa do Boi - Morro do Querosene

Objetivo Geral: Analisar qual a concepção dos frequentadores da festa sobre a identidade do evento.

Objetivos específicos:

Verificar a origem geográfica dos frequentadores – bairro, cidade, estado;

Verificar se os frequentadores associam a festa a algum local do Norte/Nordeste; 

Comparar a concepção de cultura popular dos frequentadores e autores da área.

Hipóteses:

Os manifestos populares têm criado grande admiração entre o público brasileiro na última década, seja em grandes festivais musicais, o próprio Carnaval ou eventos folclóricos como o do Boi de Parintins, um público que busca entretenimento em manifestações artísticas e populares, o que vem influenciando bastante o setor de Lazer e Turismo, como o crescente Carnaval de rua paulistano. Por isso temos como intuito descobrir o significado de um evento popular e artístico por meio do olhar do público, tendo como objeto a Festa do Boi do Morro do Querosene em São Paulo, festividade típica do Maranhão que ganhou espaço e identidade própria em terras paulistanas.

Buscando essa identidade por meio de seus frequentadores, temos como discussão possíveis idéias do que esses indivíduos observam em meio a essa manifestação artística. A partir de conhecimento pessoal prévio, as hipóteses levantadas nessa pesquisa é de que os frequentadores da festa são principalmente moradores do próprio bairro Vila Pirajussara, onde o Morro do

Querosene se localiza, na cidade de São Paulo, devido a facilidade de acesso às informações da festa e proximidade com o local. A segunda é que os frequentadores associam a Festa do Boi às regiões Norte e Nordeste, pela formação da população do Morro do Querosene em si, que é em boa parte formada por nortistas e nordestinos e seus descendentes, e também pela exploração dos elementos típicos das regiões pelas mídias de massa – que geralmente esgotam tais elementos em estereótipos.

Um público que identifica na cultura popular um elemento importante de disseminação cultural na cidade e sendo um símbolo nacional de proteção da identidade regional, os olhares populares e acadêmicos podem parecer dois universos completamente diferentes, mas que em muitas vezes divergem para um ponto em comum, mesmo com pequenas diferenças, por fim, espera se que os conceitos de cultura popular de autores da área sejam semelhantes e complementares aos conceitos empíricos dos frequentadores da festa.

Conclusão

A análise da Festa do Boi no Morro do Querosene revelou resultados significativos sobre a concepção de cultura popular entre seus frequentadores e o impacto do evento no fortalecimento da identidade cultural brasileira. Através das entrevistas realizadas com participantes da festa, foi possível validar as hipóteses iniciais e identificar elementos relevantes para o turismo cultural e a preservação do patrimônio imaterial.

Perfil dos Frequentadores

Os dados coletados mostram que a maioria dos entrevistados reside no próprio bairro Vila Pirajussara ou em áreas adjacentes, como Butantã e Vila Sônia, incluindo muitos estudantes da Universidade de São Paulo. Além disso, um número considerável de participantes é oriundo de estados do Norte e Nordeste, reforçando a ligação histórica e cultural dessas regiões com o evento. Como destacou Maria, uma frequentadora de 34 anos, nascida no Maranhão e residente no Morro do Querosene:

“A Festa do Boi me faz lembrar das festas que eu ia com minha família no Maranhão. É como estar em casa, mesmo estando tão longe.”

Essa percepção confirma a primeira hipótese, evidenciando que a proximidade geográfica e os laços culturais são fatores importantes para a participação no evento.

Segue a seguir uma das entrevistas com uma percepção interessante de um aluno participante do festejo:

Eu: Primeiramente, obrigado por aceitar participar desta entrevista. Poderia nos contar um pouco sobre como você conheceu a Festa do Boi?

Entrevistado: Claro! Eu sou aluno da USP, faço Ciências Sociais, e conheci a Festa do Boi logo no meu primeiro ano aqui, por meio de um amigo que morava no Morro do Querosene. Ele me falou que era uma festa incrível, cheia de cultura, música e tradições do Norte e Nordeste, então decidi conferir. Desde então, participo todo ano.

Eu: O que te atrai na festa?

Entrevistado: Acho que o mais interessante é a energia do evento. A mistura de pessoas, a música, os figurinos do boi... tudo cria uma atmosfera mágica. É uma celebração da cultura popular que nos transporta para outra realidade, mesmo estando no meio de São Paulo. Também gosto de como a festa une diferentes públicos — moradores antigos, estudantes da USP e visitantes de outros lugares.

Eu: Como você percebe o impacto da festa na comunidade local e no público que participa?

Entrevistado: O impacto é bem positivo, principalmente na valorização da cultura popular. Para a comunidade local, é uma oportunidade de preservar suas raízes e compartilhar suas tradições com um público mais amplo. Já para quem participa, como eu, é uma experiência de aprendizado. Muitos saem da festa com uma visão diferente sobre o que é cultura popular e como ela pode ser forte mesmo em um ambiente urbano como São Paulo.

Eu: Você acredita que a Festa do Boi influencia de alguma forma a sua formação acadêmica?

Entrevistado: Sem dúvida. No meu curso, estudamos muito sobre identidade cultural, tradições e globalização. Participar da Festa do Boi me ajuda a ver na prática o que discutimos em sala de aula. Além disso, tenho usado a festa como exemplo em alguns trabalhos acadêmicos, porque ela é um ótimo estudo de caso sobre a preservação do patrimônio imaterial.

Eu: Para finalizar, o que você diria para alguém que nunca participou da Festa do Boi?

Entrevistado: Eu diria que é uma experiência imperdível! Você não só vai se divertir, mas também vai se conectar com uma parte rica da cultura brasileira que talvez não conheça tão bem. A festa é uma verdadeira celebração da diversidade e da força das tradições populares. Vale muito a pena!

Eu: Obrigado pela entrevista!

Entrevistado: Eu que agradeço!

Associação com o Norte e Nordeste

Outro ponto destacado nas entrevistas foi a forte associação da festa com as tradições do Norte e Nordeste do Brasil. João, de 45 anos, natural de Pernambuco, declarou:

“A música, os trajes, até a comida... tudo aqui me faz pensar no Nordeste. É muito bom ver essas tradições sendo valorizadas em São Paulo.”

Essa conexão cultural também foi mencionada por Clara, uma jovem paulistana de 22 anos, que afirmou:

“Eu nunca fui ao Nordeste, mas aqui na festa sinto que consigo vivenciar um pouco da cultura de lá.”

Essas declarações reforçam a segunda hipótese, demonstrando que a festa carrega consigo símbolos e práticas tradicionais das regiões Norte e Nordeste, sendo reconhecida por frequentadores de diversas origens.

Concepção de Cultura Popular

Ao comparar as percepções dos frequentadores com os conceitos teóricos de autores como Canclini (1995) e Hall (2003), verificou-se uma convergência interessante. Os entrevistados enxergam a Festa do Boi não apenas como um momento de entretenimento, mas como uma importante expressão de resistência cultural e fortalecimento da identidade brasileira.

Pedro, um guia de turismo presente no evento, destacou:

“A festa é um exemplo vivo de como a cultura popular pode se manter forte, mesmo em um cenário urbano tão diversificado como São Paulo. É um patrimônio imaterial que precisa ser preservado.”

Essa visão alinha-se às discussões teóricas, evidenciando que a Festa do Boi atua como um espaço de ressignificação cultural, conectando diferentes gerações e comunidades.

Impacto no Turismo Cultural

A Festa do Boi também mostrou seu potencial como atrativo turístico. Durante as observações, foi possível identificar turistas de outras cidades e até de fora do Brasil. Ana, uma turista portuguesa, mencionou:

“Vim a São Paulo para conhecer sua diversidade cultural e encontrei nesta festa algo único e muito autêntico. Pretendo voltar no próximo ano.”

Esse tipo de depoimento reflete o crescente interesse por experiências autênticas, reforçando a relevância do evento no fortalecimento do turismo cultural.

Considerações Finais

Em suma, a pesquisa evidenciou que a Festa do Boi desempenha um papel crucial na difusão da cultura popular brasileira e na valorização do patrimônio imaterial. O evento conecta diferentes públicos, promovendo uma troca cultural rica e autêntica, ao mesmo tempo em que proporciona um espaço de convivência comunitária e de resgate das tradições locais. Por meio de suas músicas, danças e encenações, a festa não só entretém, mas também educa e sensibiliza o público sobre a importância de preservar manifestações culturais que carregam a essência da identidade brasileira.

Além disso, a Festa do Boi contribui significativamente para o turismo cultural, oferecendo uma experiência que transcende o simples entretenimento. Ao atrair visitantes de diferentes regiões, o evento impulsiona a economia local, fomenta a apreciação do patrimônio imaterial e promove a integração de diversas culturas. A valorização de eventos como este é fundamental para fortalecer a identidade nacional em um mundo cada vez mais globalizado, onde muitas tradições correm o risco de se perder.

Os resultados da pesquisa reforçam a importância de apoiar e preservar festividades culturais, garantindo sua continuidade para as próximas gerações. Investimentos em políticas públicas e iniciativas privadas podem assegurar que eventos como a Festa do Boi continuem desempenhando seu papel como guardiões da memória e da diversidade cultural brasileira. Por fim, a pesquisa também aponta para a necessidade de fomentar práticas turísticas sustentáveis e inclusivas, que valorizem o protagonismo das comunidades locais e respeitem os valores culturais que tornam essas manifestações tão únicas e significativas.

Referências

BARBOSA ,  Maria de Lourdes .  Turismo cultural e patrimônio imaterial: reflexões e práticas no Brasil. . São Paulo : Edusp , 2011 .

CANCLINI ,  Néstor García .  Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade . São Paulo : Edusp , 1995 .

Dias ,  F. Anderson .  Cultura Popular Como Atrativo Turístico e Práticas Organizativas de Grupos Folclóricos . Florianópolis , 2007   Dissertação -  Universidade Federal de Santa Catarina .

DMITRUK ,  Luiz Carlos .  Metodologia da pesquisa científica . São Paulo : Atlas , 2011 .

HALL ,  Stuart .  A identidade cultural na pós-modernidade . 11 ed . Rio de Janeiro : DP&A , 2003 .

OSORIO ,  Patrícia .  Festivais de cultura popular e patrimônios: campos de batalhas nas políticas de identidades . 2018   Tese -  Universidade Federal de Mato Grosso do Sul .

THOMPSON ,  Paul .  A voz do passado: história oral. . 3 ed . São Paulo : Paz e Terra , 1998 .

APÊNDICE A — Roteiro de Entrevista com Frequentadores da Festa do Boi

Roteiro de Entrevista

Parte 1 – Identificação do Entrevistado

Nome (opcional):

Idade:

Local de residência (bairro, cidade, estado):

Origem (cidade/estado de nascimento):

Quantas vezes já participou da Festa do Boi?

Parte 2 – Percepções sobre a Festa

6. O que motivou sua participação na Festa do Boi?

7. Quais elementos da festa mais chamaram sua atenção (música, dança, figurinos, etc.)?

8. Você associa a Festa do Boi a alguma região específica do Brasil? Por quê?

9. Em sua opinião, qual é o significado cultural da festa?

Parte 3 – Cultura Popular e Identidade

10. O que você entende por “cultura popular”?

11. Você considera que a Festa do Boi contribui para preservar a cultura popular? De que forma?

12. A festa representa alguma parte da sua própria identidade cultural ou tradição familiar?

Parte 4 – Turismo e Patrimônio Imaterial

13. Você acredita que a Festa do Boi pode atrair turistas?

14. Como você acha que eventos como este impactam a percepção da cultura brasileira por pessoas de outras regiões ou países?

15. Na sua visão, a festa deveria ser considerada patrimônio imaterial? Explique.

Parte 5 – Sugestões e Impressões Finais

16. O que você mudaria ou acrescentaria na Festa do Boi para torná-la ainda mais representativa?

17. Alguma outra observação ou comentário sobre a festa ou a cultura popular brasileira?

Nota: Todas as entrevistas foram realizadas com o consentimento dos participantes, garantindo o anonimato e a confidencialidade das informações fornecidas.