Potenciais do Semiárido e As Técnicas e Tecnologias Apropriadas Para o Desenvolvimento Sustentável
Centro de Profissionalização e Educação Técnica
POTENCIAIS DO SEMIÁRIDO E AS TÉCNICAS E TECNOLOGIAS APROPRIADAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
LUCAS RAMON RODRIGUES LEAL
Orientador: Adriana Morais
Coorientador: Marcia Cristiane Oliveira
Resumo
O semiárido brasileiro, conforme nova divisão aprovada pelo Condel (Conselho Deliberativo da Sudene), em novembro de 2017, ocupa uma área superior a 982.563,3 Km², correspondendo a mais de 11,54% do território brasileiro, mais de 63% do território nordestino, e encontra-se associado ao bioma caatinga. Em 2010, conforme dados do IBGE, já era habitado por 22.598.318 pessoas, o que correspondia a 11,85% da população brasileira. Apresenta precipitações médias anuais de no máximo 800 mm, porém considerando uma média de 700 mm, isso corresponde a 750 bilhões de m3 de água, quantidade suficiente para suprir todas as necessidades de consumo humano e desenvolvimento de atividades agrícolas. No entanto, as chuvas são irregulares no tempo e no espaço, além da ocorrência de elevado nível de evapotranspiração, devido às altas temperaturas. Este trabalho tem como objetivo por um lado, mostrar os limites do semiárido, e por outro a sua rica biodiversidade de animais e vegetais, com grande potencial para o desenvolvimento de atividades econômicas, destacando que para o uso adequado e sustentável deste meio, faz-se necessário a adoção de técnicas e tecnologias apropriadas às características climáticas do mesmo. Dentre os potenciais do semiárido, destacam – se os recursos naturais como a carnaúba, o umbu a favela e pastos nativos, associados à criação de pequenos animais como caprinos. Com a utilização de técnicas e tecnologias apropriadas como cisterna de placa, cisterna calçadão, tanque de pedra, sistema PAIS, dentre outras, pode – se garantir a produção de hortaliças, frutas e legumes durante o ano inteiro, além do consumo humano e animal de água. Para elaboração deste trabalho, baseou-se em pesquisas bibliográficas em livros, cadernos e sites, que apresentam abordagens acerca do tema, tendo obtido como resultado, relevantes constatações acerca dos potenciais do semiárido, que explorado de forma sustentável, pode garantir condições suficientes para se viver bem neste meio.
Palavras-chave: Bioma caatinga; Evapotranspiração; Recursos naturais; Biodiversidade.
Abstract
The Brazilian semiarid region, according to the new division approved by Condel (Sudene Deliberative Council) in November 2017, occupies an area of over 982,563.3 km², corresponding to more than 11.54% of the Brazilian territory, more than 63% of the Northeastern territory, and is associated with the Caatinga biome. In 2010, according to data from IBGE, it was already inhabited by 22,598,318 people, which corresponded to 11.85% of the Brazilian population. It has an average annual rainfall of no more than 800 mm, but considering an average of 700 mm, this corresponds to 750 billion m3 of water, a quantity sufficient to meet all the needs of human consumption and development of agricultural activities. However, rainfall is irregular in time and space, in addition to the occurrence of high levels of evapotranspiration, due to high temperatures. This work aims to show the limits of the semiarid region, and its rich biodiversity of animals and plants, with great potential for the development of economic activities, highlighting that for the adequate and sustainable use of this environment, it is necessary to adopt techniques and technologies appropriate to its climatic characteristics. Among the potentials of the semiarid region, natural resources such as carnauba, umbu, favela and native pastures stand out, associated with the raising of small animals such as goats. With the use of appropriate techniques and technologies such as plate cisterns, sidewalk cisterns, stone tanks, PAIS systems, among others, it is possible to guarantee the production of vegetables, fruits and legumes throughout the year, in addition to the human and animal consumption of water. To prepare this work, it was based on bibliographic research in books, notebooks and websites, which present approaches on the subject, having obtained as a result, relevant findings about the potentials of the semiarid region, which, explored sustainably, can guarantee sufficient conditions for living well in this environment.
Keywords: Caatinga biome; Evapotranspiration; Natural resources; Biodiversity.
INTRODUÇÃO
O clima semiárido, está presente no Brasil na região Nordeste e Norte de Minas Gerais, e está associado ao importante bioma da caatinga, sendo este, o único bioma exclusivamente brasileiro, ocupando uma área de 734.478 km², o que corresponde a cerca de 7% do território brasileiro, conforme SANTOS, SCHISTEK e OBERHOFER (2007).
O Brasil possui atualmente 5.570 municípios, sendo que destes, 1.262 estão em área semiárida, envolvendo parte dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e o norte de Minas Gerais, conforme a nova delimitação aprovada pelo Conselho Deliberativo da Sudene (Condel) em novembro de 2017. Segundo SANTANA (2007, p. 24) a área semiárida correspondia naquele ano, a uma extensão de 982.563,3 Km², ou seja, 11,54% do território brasileiro, e 63% do território nordestino, ganhando amplitude com a nova delimitação.
Conforme dados do Censo Demográfico de 2010 realizado pelo IBGE, o semiárido era povoado naquele ano, por 22.598.318 habitantes, somando 11,85% da população brasileira, sendo que 8.595.200 (44%) residiam na zonal rural e 14.003.118 (56%) na zona urbana, com uma densidade demográfica de 23,6 hab/km², sendo que com a nova delimitação da SUDENE (Condel, 2017) esta população passa a um número superior a 25 milhões de pessoas. No Piauí, conforme a Portaria interministerial Nº 01 de 09 de março de 2005, 127 municípios faziam parte da área do semiárido, número este que se amplia para 148, com a nova deliberação, passando a corresponder a 66% dos 224 municípios do estado, que fazem parte dessa delimitação, o que representa cerca de 165.556,28 km² dos 251.529 km 2 totais do território piauiense, sendo que segundo o IBGE (2010), 50,21% da população do semiárido piauiense, residiam na zona rural naquele ano, o que representa 520.613 dos 1.045.547 habitantes residentes nesta região do estado.
As altas temperaturas médias anuais, que variam em torno de 26 o C, com pequena variabilidade interanual, exercem forte efeito sobre a evapotranspiração potencial, chegando até a 3.000 mm/ano e precipitações médias anuais inferiores a 800 mm. (750 mm.). No entanto, não existe ano sem chuva alguma, sendo que dificilmente chove menos que 200 mm. mesmo no ano mais seco, o que faz do semiárido brasileiro, o mais chuvoso do planeta, segundo SANTOS, SCHISTEK e OBERHOFER (2007, p. 35). Porém, ainda segundo esses autores, as chuvas são irregulares no tempo e no espaço, mas se supomos uma média de 700 mm de chuva por ano nos 969.589,4 Km² do SAB – Semiárido Brasileiro temos 750 bilhões de m 3 de água. Disso, 87 % são absorvidos através da evapotranspiração e 4 % infiltram no subsolo, ficando 9 % de água que escorre o que corresponde a 56,7 bilhões de m 3. . A irregularidade das chuvas no tempo e no espaço dificulta as atividades agropecuárias, sendo comum a escassez de água, principalmente no período de estiagem.
Com cerca de 80% do solo de origem cristalina, e os outros 20% representados por solos sedimentares, o semiárido apresenta área geográfica apropriada para a lavoura bastante reduzida, apresentando o seguinte potencial de utilização de suas terras: “Criação de animais 44%, reservas 36%, produção de sequeiro 16% e irrigação 4%”. SANTOS, SCHISTEK e OBERHOFER (2007, p. 25).
Com base nas características apresentadas, desenvolveu-se ao longo do tempo, uma série de técnicas e tecnologias apropriadas para a convivência com o semiárido, que são capazes de revolucionar a produção de alimentos e geração de renda nesta região do país, em consonância com os seus limites e potencialidades. Desta forma, este trabalho justifica-se, pois objetiva apresentar as potencialidades e limites do semiárido, bem como técnicas e tecnologias alternativas de desenvolvimento sustentável, rompendo com o paradigma de combate à seca, impregnado por muito tempo na mente das pessoas, que muitas vezes passaram a olhar para o mesmo, como um lugar impossível de se viver.
Para elaboração deste trabalho, a metodologia utilizada foi de natureza qualitativa, através de pesquisas bibliográficas e análise de documentos, onde foram utilizadas obras de autores que contribuíram com o tema da convivência com o semiárido e as técnicas e tecnologias para o desenvolvimento sustentável, através de pesquisa em sites, cadernos e livros.
O SEMIÁRIDO E SEUS POTENCIAIS
O debate da convivência com o semiárido tem sido adotado, por um conjunto de instituições da sociedade civil e pública, principalmente aquelas que compõem a ASA (Articulação do Semiárido), com o objetivo de romper o paradigma do cambate à seca, que por muito tempo predominou no país, e de modo específico na região semiárida do Nordeste brasileiro, que se caracteriza principalmente, pela escassez de chuvas, onde de costume, possui um período de duração de cerca de quatro meses com a ocorrência de chuvas, ficando o restante do ano, seco, além de que mesmo no período chuvoso, estas costumam ser bastante irregulares, chegando a chover bastante em um mês, e em outro não, ou as vezes uma semana inteira, e outra não, sendo comum nestes períodos, a ocorrência de cheias e alagamentos. “[...] as secas são fenômenos naturais periódicos que não podemos combater, mas com os quais podemos conviver” ASA (1999, p. 5).
Porém, toda a água que cai com as chuvas, escorre através dos riachos e vai embora, sendo que a outra parte que fica retida em reservatórios, em poucos dias desaparece através da evaporação, devido às altas temperaturas. Encontrar água no subsolo também, não é comum, pois grande parte da região semiárida, encontra – se sobre rocha cristalina. “Os terrenos cristalinos do semi-árido brasileiro são constituídos por rochas ígneas e metamórficas e ocupam cerca de 70% da região conhecida como polígono das secas no Nordeste do Brasil” FEITOSA (2004, p. 3). Esse fator dificulta a infiltração da água da chuva, tornando difícil o acesso, pois a perfuração de poço tubular nestas regiões, não é uma medida viável, visto que muitas vezes não encontra água, e quando a encontra, muitas vezes esta é imprópria para o consumo.
Porém, apesar de aparentemente e no senso comum caracterizar-se como uma região pobre, quase impossível de se produzir, o semiárido apresenta muitos potenciais que vão desde os seus recursos naturais, somando – se a diversas alternativas que foram sendo construídas a partir dessa realidade, através das quais, possa-se produzir neste meio com características tão adversas, através da captação da água da chuva e utilização dos recursos naturais como o extrativismo. Daí a importância de se aprender a conviver com neste meio.
A CAATINGA SUA BIODIVERSIDADE E POTENCIALIDADES
Apesar da pouca quantidade de chuva, e do clima quente da região semiárida, a mesma é rica em recursos naturais, possuindo um grande número de espécies vegetais, que podem ser explorados de forma sustentável, constituindo – se como fonte de renda para a população sem gerar danos ao meio ambiente. As espécies nativas do semi-árido que se destacam, pela resistência à seca, e que fazem parte dos sistemas pecuários, além de apresentarem em sua composição, alto nível protéico, fornecem outros produtos como madeira, frutos e túberas. ARAÚJO 2001 (Apud. Pinto et al., 2006, p. 3).
O bioma caatinga, predominante no semiárido, com uma área de 734.478 km², ocupa 70% de todo o Nordeste, e possui cerca de 2500 espécies, sendo que das quais, 300 são exclusivas deste ecossistema, constituindo-se assim numa grande diversidade tanto na fauna como na flora, KIILL (s. d., p. 2). A seguir, alguns exemplos de plantas e animais adaptados a este ecossistema, bem como os seus potenciais:
Umbu: Planta nativa da caatinga, adaptada ao clima semiárido, capaz de produzir mesmo em anos de pouca chuva, sem necessitar de tratos que são necessários para plantas cultivadas como a bananeira, a mangueira, dentre outras. Do fruto do umbu, assim como outras frutas nativas, é possível se produzir uma série de produtos como geléia, doce, polpa, licor, cerveja, dentre outros. SANTOS, SCHISTEK e OBERHOFER (2007, p. 14)
Carnaúba: Conhecida como árvore da vida, é uma palmeira que oferece uma infinidade de usos. Dentre eles, as raízes têm uso medicinal, as palhas podem ser utilizadas para a confecção de artesanato, esteiras, vassoura, chapéu, cobertura de casas, e adubo. O pó é altamente comercial, sendo utilizado na composição de diversos produtos industriais como cosméticos, cápsulas de medicamentos, componentes eletrônicos dentre outros. O fruto rico em nutriente para ração animal, e a madeira (tronco), de excelente qualidade para construção.
A cera de carnaúba é considerada um produto nobre, tendo os mercados internos e externos garantidos, principalmente pela exigência cada vez maior por produtos naturais e ecologicamente corretos. Além da infinidade de aplicações, a extração da cera não causa danos ao meio ambiente, pois as folhas retiradas na colheita são repostas no ano seguinte, atendendo também a exigência de alguns mercados por produtos de qualidade e base natural. (NASCIMENTO, et. al. 2018.)
Favela: Encontrada em regiões mais secas da caatinga, é uma planta espinhosa , bem adaptada ao clima semiárido e possui diversas funções, tanto alimentar como medicinal. Como planta medicinal, pode utilizar-se o pó da casca para cicatrizar ferimentos, tratamento do bicho de pé e a água da casca, pode ser utilizada para curar dor de dente. “Já o chá da casca, feito sem ferver, serve para curar inflamações, principalmente no ovário”. HENRIQUE ( 2017).
As sementes da favela também podem ser utilizadas para a extração de óleo, para produção de biocombustíveis e uso medicinal, além de servir de alimento para uma grande diversidade de pássaros, e também alimentação humana.
As folhas da favela, constitui-se num rico alimento para animais, principalmente caprinos. No período de estiagem, as folhas vão ficando maduras, caindo aos poucos, e os animais vão comendo, o que faz com que a criação permaneça bem nutrida, mesmo no período de escassez de pastagens. Ainda segundo HENRIQUE ( 2017), além das propriedades já descritas tanto da sua utilização para humanos como animais, a favela também pode ser utilizada na recuperação de áreas degradadas.
Criação de Caprinos: O caprino é um animal altamente adaptado às condições climáticas do semiárido, sendo que a criação dos mesmos torna-se viável, sobretudo se comparado a animais de grande porte, como bovinos, que necessitam de muito mais alimento e água para sobreviverem. Enquanto uma cabra necessita de 273,75 kg de massa seca por ano, e apenas 04 litros de água por dia para viver bem, uma vaca, por exemplo, necessita de 2190kg de massa seca por ano, e cerca de 40 litros de água por dia, sendo que ao considerar que no semiárido a natureza produz apenas 91/kg de massa seca por ano, torna evidente o potencial da criação de caprinos neste meio. IRPAA, (2011).
“A vocação do SAB (Semiárido Brasileiro), considerando a irregularidade climática, consiste na criação de animais, especialmente de caprinos e ovinos, de raças oriundas de ecossistemas semelhantes ao SAB”. SANTOS, SCHISTEK e OBERHOFER (2007, p. 37).

TÉCNICAS E TECNOLOGIAS ADAPTADAS AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO SEMIÁRIDO
Outro potencial do semiárido, é a possibilidade de captação da água da chuva, para a produção de alimentos, consumo humano e animal, utilizando técnicas e tecnologias como: Cisterna de placa, cisterna calçadão, cisterna de enxurrada, tanque de pedra, barragem subterrânea, dentre outras tecnologias, pois apesar de uma das maiores dificuldades encontradas neste meio, está relacionado à “falta” d’água, o semiárido brasileiro é o mais chuvoso do mundo, com capacidade hídrica para atender todas as necessidades de consumo e produção, pois conforme SANTOS, SCHISTEK e OBERHOFER (2007, p. 35) “A água de chuva que cai todos os anos no Semi-Árido representa uma fonte inesgotável; vale recordar que caem, em média, 750 bilhões de metros cúbicos de água de chuva no Semi-Árido, e apenas 30 bilhões são aproveitados”.
Cisterna de placa: Construída a base de cimento, areia e ferro, tem capacidade para 16 mil litros, e recebe a água da chuva, que é captada do telhado da casa, durante o período chuvoso. Uma cisterna de placa cheia é suficiente para uma família beber e cozinhar durante todo o período de estiagem.
Cisterna calçadão: Idêntica à cisterna de placa, porém com maior capacidade de armazenamento de água (52 mil litros), e tem como finalidade, a captação da água da chuva, para a produção de alimento através do plantio de hortaliças e outras plantas frutíferas e/ou medicinais, e também o consumo animal. Diferente da cisterna de placa para consumo humano, a cisterna calçadão tem como forma de captação da água da chuva, um calçadão feito de cimento, com 100 2 , rodeado por meio fio, onde a água da chuva ao cair no calçadão, escorre para dentro da cisterna, de onde é retirada posteriormente através de bombas manuais ou elétricas, para utilização no plantio ou para os animais.

Cisterna de enxurrada: Parecida com a cisterna calçadão, a mesma capta a água da chuva, que escorre através de enxurrada, onde é feito um desvio que leva a água para dentro da mesma. Neste caso, é necessário construir uma forma de filtrar a água, antes de cair na cisterna, evitando assim, que sujeiras arrastadas pela água, vá para dentro da cisterna, provocando o seu aterramento. A água acumulada neste tipo de cisterna, tem a mesma finalidade da água acumulada na cisterna calçadão.
Tanque de pedra: Construído em locais de rocha fixa, onde é comum se encontrar caldeirões. Este tipo de reservatório de água é construído, com pequenas adaptações feitas nas rochas, e a água acumulada serve para a utilização em plantios, consumo animal, e até para algumas necessidades humanas, como para tomar banho e lavar roupas.

Sistemas PAIS – Produção Apropriada Integrada e Sustentável: É uma forma de aproveitar a água armazenada nestes reservatórios, de forma racional, onde se utiliza sistema de irrigação por gotejamento, sendo os canteiros feitos em forma de círculos, tendo ao centro um galinheiro, com capacidade para 10 galinhas, num sistema de 256 m 2 . Além de se utilizar adubos e defensivos naturais nestes sistemas, também podem ser plantadas árvores frutíferas de pequeno porte no seu entorno, como mamão, banana, acerola dentre outras, que além de produzir alimento servirá de barreira natural para a horta.
Barragem subterrânea: Construída em locais por onde escorre da chuva, e apresenta uma camada de solo arenoso, porém se encontrando abaixo uma rocha fixa, com capacidade mínima de infiltração. Num local adequado, deve ser feito um escavamento, até atingir a rocha, onde deve ser construído uma parede com pedra ou tijolo, podendo ser utilizado também lona, para que garanta que a água não seja infiltrada. Desta forma, no período chuvoso a água se acumula no subsolo, permanecendo a superfície úmido durante o período seco, onde pode ser plantado vários tipos de hortaliças, batata, macaxeira, dentre outras plantas, conforme pode – se ver, na fotografia 04.

Banco de proteína com pastagem nativa: O semiárido, possui um ecossistema frágil e com demorada ou pouca capacidade de reconstituição, sendo que esta fragilidade, é decorrente dos próprios fatores e da pouca compreensão que se tem das características ambientais deste meio. Com isso, faz-se necessário o cuidado com o desmatamento, principalmente para o plantio de capim, tendo como uma de muitas alternativas, a utilização da pastagem nativa, para a alimentação animal, onde os mesmos se alimentam direto na natureza, ou que podem ser utilizadas na confecção de silos, podendo assim guardar alimento para os mesmos no período de estiagem.
[...] forrageiras nativas e introduzidas para a formação de “bancos de proteína” incluem: a cunhã (Clitoria ternatea (L), o guandu (Cajanus cajan (L.) Millspaugh), a gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.), a maniçoba (Manihot pseudoglaziovii Pax & Hoffman), a flor-de-seda (Calotropis procera (Ait.) R.Br.), a jureminha (Desmanthus virgatus), a estilosantes (Stylosanthes sp.), entre outras. LIMA (et al 2007)
Plantas nativas do semiárido como o fedegoso (nome pelo qual é conhecido), possuem enorme potencial na confecção de silos, bastando apenas adotar o manejo e as técnicas adequadas.
CONCLUSÃO
O semiárido ocupa uma parte considerável do território brasileiro, que segundo SANTANA (2007, p. 24) correspondia naquele ano a 11,54%, e apresenta muitas limitações principalmente no aspecto do desenvolvimento de atividades agropecuárias, o que se deve em grande parte, aos fatores climáticos como a irregularidade das chuvas no tempo e no espaço, associado às altas temperaturas.
De toda a área do semiárido, apenas 20% é propício para o desenvolvimento de atividades agrícolas, incluindo a produção de sequeiro, e irrigação. Os demais 80%, deve ser mantido como área de reserva, extrativismo e/ou criação de pequenos animais. SANTOS, SCHISTEK e OBERHOFER (2007, p. 25).
Associado ao bioma caatinga, o semiárido apesar dos limites apresentados, possui uma rica biodiversidade de animais e vegetais, a exemplo do umbu, da carnaúba, da favela e pastagens nativas, sendo que algumas plantas possuem grande potencial medicinal, extrativista e/ou na alimentação de pequenos animais como os caprinos, que se adaptam bem às condições climáticas deste meio.
Durante muito tempo, foi disseminada a idéia do combate a seca, com políticas e programas como as frentes de emergência, que davam resultados mínimos, pois a seca é um fenômeno natural. Com o tempo, e a partir dos potenciais do semiárido, e da reflexão de um conjunto de organizações, principalmente aquelas que compõem a Articulação do Semiárido (ASA), criou-se várias técnicas e tecnologias apropriadas para o desenvolvimento sustentável neste meio, tornando – se possível, por exemplo, a captação e utilização da água da chuva para a produção de alimento, com o cultivo de plantas e a criação de animais, onde a partir de então, passa-se a falar em convivência com o semiárido, em vez de combate a seca.
Dentre as técnicas e tecnologias apropriadas para o desenvolvimento sustentável no semiárido, destacam-se a cisterna de placa, cisterna calçadão, cisterna de enxurrada, tanque de pedra, barragem subterrânea, irrigação com gotejamento (sistema PAIS) e utilização da pastagem nativa na alimentação animal, que são altamente viáveis e de baixo custo para implementação.
Referências
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