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RENATA FURLAN

Inseminação Artificial em Tempo Fixo em Cabras

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INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM TEMPO FIXO EM CABRAS

UNIVERSIDADE POTIGUAR - Campus Mossoró

INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM TEMPO FIXO EM CABRAS

dinara karen de oliveira silva

Larissa gomes rebouças

layane evelyn de souza almeida bezerra

letícia emanuelly almeida da silva

luara alves de castro

renata da costa furlan ribeiro

sharley gomes de andrade filho

Orientador: Katia Regina Freire Lopes

Introdução

As técnicas de reprodução, principalmente a inseminação artificial tem desempenhado um papel fundamental no aprimoramento da eficiência reprodutiva de animais de produção, e, neste contexto, a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) tem se destacado como uma técnica de grande relevância. A IATF em cabras possibilita a otimização dos processos reprodutivos, promovendo o controle mais eficaz sobre a fertilização e o melhoramento genético, além de reduzir o intervalo entre partos e melhorar a eficiência reprodutiva dos rebanhos.

Nos últimos anos, o avanço da biotecnologia e a aplicação de protocolos hormonais específicos para a sincronização do cio têm permitido que a IATF seja uma ferramenta acessível e eficiente para a produção de caprinos, principalmente em sistemas de criação intensiva e semi-intensiva. A relevância dessa técnica está  ligada à sua capacidade de padronizar o manejo reprodutivo, permitindo maior previsibilidade e controle sobre os ciclos reprodutivos, o que facilita a programação de inseminações em massa.

O presente estudo tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre a aplicação da IATF em cabras, abordando desde o conceito e histórico da técnica, até a sua evolução, critérios de aplicabilidade, metodologia, e suas principais indicações e contraindicações. A pesquisa visa proporcionar um embasamento técnico-científico atualizado, promovendo uma análise crítica sobre os desafios e benefícios da utilização da IATF na caprinocultura.

Revisão bibliográfica

Conceito

A IATF consiste na inseminação artificial programada sem a necessidade de detecção do estro (cio), sincronizando os ciclos reprodutivos das fêmeas por meio de protocolos hormonais. O objetivo principal é induzir a ovulação de forma sincronizada, permitindo a inseminação em um momento preestabelecido, o que facilita o manejo e melhora a eficiência do processo.

Histórico

Origem da Inseminação Artificial (IA):

A inseminação artificial começou a ser desenvolvida no início do século XX, primeiramente em equinos e bovinos.

Em caprinos, a técnica começou a ser explorada na década de 1930, mas de forma grosseira, devido à limitada disponibilidade de técnicas para coleta e preservação do sêmen.

Uso de hormônios na sincronização do estro:

Na década de 1970, os primeiros protocolos hormonais baseados no uso de prostaglandinas para indução e sincronização do estro foram introduzidos.

O uso de dispositivos intravaginais (esponjas impregnadas com progestágenos) e gonadotrofinas começou a ser investigado, permitindo maior controle sobre os ciclos reprodutivos.

Avanços nos protocolos de IATF:

Nas décadas de 1990 e 2000, surgiram protocolos mais eficientes combinando prostaglandinas, progestágenos e hormônios como o GnRH e eCG (gonadotrofina coriônica equina).

O desenvolvimento de sêmen criopreservado de alta qualidade e técnicas de inseminação transcervical e laparoscópica contribuiu significativamente para a popularização da IATF.

EVOLUÇÃO TÉCNICA

Sincronização do ciclo reprodutivo

Dispositivos intravaginais de liberação controlada de progestágenos (CIDR) e esponjas intravaginais passaram a ser amplamente utilizados para simular a fase luteal do ciclo.

A prostaglandina F2α é usada para induzir a luteólise e permitir a retomada do ciclo reprodutivo.

Indução da Ovulação:

Hormônios como o GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas) e eCG passaram a ser empregados para sincronizar a ovulação e melhorar as taxas de concepção.

A IATF eliminou a necessidade de observação do cio, reduzindo erros de manejo.

Métodos de Inseminação

Inseminação transcervical: A técnica mais comum para sêmen fresco ou resfriado.

Inseminação laparoscópica: Mais invasiva, mas altamente eficiente para sêmen congelado devido à deposição direta no útero.

Melhoria do Sêmen:

Tecnologias de criopreservação de sêmen caprino foram aprimoradas, aumentando a viabilidade espermática pós-descongelamento.

Uso de diluentes com antioxidantes e controle preciso da temperatura durante o manuseio.

Monitoramento por Ultrassonografia:

A introdução do ultrassom na reprodução caprina permitiu verificar a resposta hormonal e confirmar a presença de folículos ovulatórios ou gestação precoce.

Impactos da IATF em Caprinos

Melhoramento genético acelerado: Introdução de genes superiores sem a necessidade de transporte físico dos reprodutores.

Otimização do manejo: Programação reprodutiva simplificada, reduzindo a necessidade de observação constante.

Maior controle sanitário: Minimização do risco de transmissão de doenças

Processo de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em cabras

A Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) é uma técnica reprodutiva que tem como objetivo sincronizar o estro e a ovulação em fêmeas permitindo que a inseminação ocorra em um momento predeterminado, sem a necessidade de observar o estro dos animais. Abaixo está o passo a passo da metodologia:

Passo a Passo da Metodologia 

1. Sincronização do Estro

• Dia 0: Inserção de um dispositivo intravaginal contendo progesterona.

• Dia 7-9: Retirada do dispositivo de progesterona e aplicação de prostaglandina (PGF2α), que induz a luteólise (regressão do corpo lúteo).

• Dia 9-11: Aplicação de eCG (gonadotrofina coriônica equina), que tem como função estimular o crescimento dos folículos ovarianos e promover a ovulação.

Inseminação

• 48 a 55 horas após a retirada do dispositivo: Realização da inseminação artificial. Neste processo, utiliza-se uma pipeta inseminadora, que é introduzida na vagina do animal até o cérvix, onde o sêmen é depositado.

  Diagnóstico de Gestação

• 25 a 30 dias após a inseminação: Realiza-se um exame de ultrassonografia para confirmar a gestação.

Protocolos Adaptados

-Protocolo de 3 manejos:

Este protocolo é adaptado para incluir a aplicação de duas doses de PGF2α:

• Uma no Dia 0, juntamente com a inserção do dispositivo intravaginal de progesterona.

• Outra no Dia 8 ou 9, no momento da retirada do dispositivo de progesterona.

• A utilização de duas doses de PGF2α reduz a concentração de progesterona no protocolo, melhorando a fertilidade.

-Protocolo de 4 manejos:

• Este protocolo inclui uma etapa adicional no Dia 0, com a aplicação de BE (benzoato de estradiol) junto à colocação do dispositivo intravaginal de progesterona. Essa etapa inicial estimula a formação de uma onda folicular.

• No Dia 7, aplica-se PGF2α para promover a luteólise.

• No Dia 9, além da retirada do dispositivo de progesterona, são administrados ECP (cipionato de estradiol) e eCG para estimular o crescimento folicular dominante e a ovulação.

• A inseminação é realizada no Dia 11, 48 horas após a última aplicação.

Os protocolos de IATF permitem maior controle sobre o manejo reprodutivo dos animais, promovendo melhores taxas de fertilidade ao sincronizar os ciclos reprodutivos. A aplicação do protocolo ideal pode variar de acordo com a categoria do animal e seu estado reprodutivo.

Indicações e Contraindicações do uso da IATF em cabras  

Indicações

A inseminação artificial é uma técnica bastante eletiva na atualidade, principalmente em grandes propriedades, visando aumentar a taxa de nascimentos em um período menor de tempo.

Ela é visada por suas diversas vantagens, como a isenção da identificação do cio, já que a mesma permite o controle do ciclo estral dos animais; seu manejo permite que diversas matrizes sejam inseminadas, as mesmas vantagens que a IA traz a IATF traz em uma escala maior, como o melhoramento genético do rebanho, dispensa da monta natural e diminuição do período de trabalho ( Nicacio , 2015 ) .

Esta biotecnologia continua a agregar vantagens ao produtor, seu protocolo bem feito diminui o tempo entre os partos e têm uma taxa de prenhez de média 64%, implicando em um ganho notável à propriedade, por tanto, ao produtor ( Nicacio , 2015 ) .

Contraindicações

A inseminação artificial em tempo fixo é uma biotecnologia e assim como todas as outras há características que especificam sua escolha ou necessidade.

Esta, é contraindicada em propriedades com baixo investimento estrutural e higiênico, já que para bons resultados da mesma, os cuidados higiênicos são primordiais. É necessário também que o profissional que colocará em prática a técnica esteja bem capacitado para que não haja interferência por sua incompetência ( Pfeifer   et al. , 2015 ) .

A não importância aos fatos poderá trazer prejuízos aos investidores, podendo manchar o histórico progressivo da técnica reprodutiva ( Pfeifer   et al. , 2015 ) .

Particularidades e Aspectos Relevantes

Para que a técnica apresente altos índices de sucesso, é necessário que algumas particularidades sejam observadas, como exposto a seguir:

Características da cabra

A cabra pode ser inseminada sem ter parido nenhuma vez, estar lactante ou não lactante. As fêmeas já estão aptas a reprodução por volta de 7 a 8 meses e com 70 a 80% de peso de uma cabra adulta ( Fonseca , 2020 ) .

As cabras nulíparas são fêmeas jovens e que nunca pariram, então não há informações sobre sua produção. Portanto, essa não é uma categoria de animais normalmente inseminada ( Fonseca Alvim , 2018 ) .

As cabras paridas e que estão em lactação só pode ser inseminadas de forma a não comprometer o período de mínimo de lactação, juntamente com o período para o animal se recuperar da gestação anterior e reestabelecido a sua condição corporal e reprodutiva. Esse período é de, pelo menos, 100 dias pós- parto ( Fonseca Alvim , 2018 ) .

As não-lactantes são os animais que já pariram uma vez e que não estão mais produzindo leite, seja porque o produtor estendeu a lactação até que ela parasse naturalmente ou por problemas reprodutivos ( Fonseca , 2020 ) .

Tempo de execução e número de inseminações

O tempo de execução e a posição em que o animal é contido pode indicar o sucesso ou o fracasso da técnica e é um indicativo do bem- estar do animal durante o processo. O quadro 1 indica o tempo ideal de inseminação ( Fonseca   et al. , 2010 )

Quadro 1 — Avaliação do tempo de execução da inseminação artificial
 ESCORE / ATRIBUIÇÃO DURAÇÃO DO PROCESSO 
 0 ou Péssima  Acima de 10 minutos
 1 ou Ruim   5 a 10 minutos
 2 ou Média   3 a 5 minutos
 3 ou Média  2 a 3 minutos
 4 ou Boa  1 a 2 minutos
 5 ou Excelente  menor que 1 minuto
Adaptado de   Fonseca   et al. ( 2010 ) .

Quanto ao número de inseminações, não há relatos de que, uma segunda inseminação realizada em até 12 horas após a primeira, aumente a taxa de gestação ( Fonseca   et al. , 2014 ) .

 O sêmen

O sêmem introduz o material genético do bode na cria, então, deve-se garantir que seja de um animal testado e que apresente as características desejáveis para o criador que o utiliza  (Fonseca, 2020).

O local de deposição do sêmem também influência no sucesso da técnica. A eficiência é medida pelo número de anéis ultrapassados pela paleta ou o grau de penetração em centímetros  ( Fonseca   et al. 2011 ) , de acordo com a tabela abaixo

Tabela 1 — Eficiência da IA em relação a profundidade de deposição do sêmem
Eficiência da IA em relação a profundidade de deposição do sêmem
Fonseca   et al. ( 2011 ) .

Esta classificação é flexível, ma vez que o comprimento e o número de anéis pode variar com a espécie e com a raça.

Inseminações com mais de 3 centímetros de profundidade provavelmente já alcançaram o corpo útero, o que significa que a parte do aplicador que ultrapassa a cérvice não necessita ser superior a 5 centímetros. Esse aspecto deve ser observado para não ocorrer perfuração do útero  ( Fonseca   et al. 2010 ) .

O sêmem utilizado na IA pode ser: fresco, fresco diluído, resfriado diluído e congelado (que é descongelado para o processo).

Em relação ao congelado, o sêmem fresco precisa de mais tempo no no sistema genital para se tornar apto à fecundação, por conta da capacitação espermática. Porém, o sêmem fresco apresenta maior viabilidade e longevidade, e o resfriado apresenta condição intermediária entre esse dois ( Fonseca   et al. , 2014 ) .

Esses parâmetros são relevantes para a escolha do horário da inseminação, pois os espermatozóides devem  estar aptos a fecundar o ovócito no momento em que ele for liberado, o que ocorre no final do estro ( Fonseca   et al. , 2010 ) .

Muco e Horário da Inseminação

Cabras apresentam eliminação de muco pela vagina quando estão em estro. O aspecto do muco indica a fase do estro em que ela se encontra e deve ser relacionado com o tipo de sêmem utilizado na inseminação ( Fonseca   et al. , 2011 ) . O Quadro 2 apresenta essa relação:

Quadro 2 — Tipos de muco cervical e indicações de sêmem
Tipos de muco cervical e indicações de sêmem
Adaptado de   Fonseca   et al. ( 2011 ) .

A caracterização da dinâmica ovulatória é um parâmetro imprescindível para quaisquer técnicas de inseminação artificial utilizada ( Fonseca   et al. , 2010 ) .


Conclusão

Para realizar corretamente a técnica de IATF, é necessário conhecer, não só a execução da técnica, mas também, observar diversos outros aspectos como: os parâmetros fisiológicos da fêmeas, escolha do sêmem de qualidade e seleção das reprodutoras adequadas, aspectos nutricionais e de produção, presença de profissional habilitado para realizar a técnica.

Referências

Facó Olivardo ; Fonseca Jeferson Ferreira da Programa de Melhoramento Genético de Caprinos Leiteiros (Capragene) histórico, desafios e perspectivas . In: Workshop sobre Produção de Caprinos na Região da Mata Atlântica , n.   18 2024 . Anais eletrônicos [...] Sobral, CE : Embrapa , 2024 . Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/ bitstream /doc/1167684/1/CNPC-2024-ETC2.pdf . Acesso em: 14 nov. 2024 .

Fonseca Jeferson Ferreira et al Biotecnologias Aplicadas à Reprodução de Ovinos e Caprinos . Brasília : Embrapa , 2014 180 p . Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/118854/1/CNPC-2014-Biotecnologia.pdf . Acesso em: 17 nov. 2024 .

Fonseca Jeferson Ferreira et al INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM PEQUENOS RUMINANTES . In: Workshop de Ciência Animal na Bahia , n.   1 2010 , Ilhéus , 2010 . Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/102769/1/AAC-Inseminacao-artificial.pdf . Acesso em: 17 nov. 2024 .

Fonseca Jeferson Ferreira et al Técnica Embrapa de Inseminação Artificial Transcervical em Caprinos por Meio de Fixação Cervical . Circular Técnica On Line , Sobral, CE , set 2011 . Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/921532/tecnica-embrapa-de-inseminacao-artificial-transcervical-em-caprinos-por-meio-de-fixacao-cervical . Acesso em: 25 nov. 2024 .

Fonseca Jeferson Ferreira Inseminação Artificial Transcervical em Tempo Flexível (IATFx) em Cabras Leiteiras Embrapa Caprinos . Juiz de Fora , 2020 14 p . Disponível em: www.embrapa.br . Acesso em: 14 nov. 2024 .

Fonseca Jeferson Ferreira ; Alvim Gilmar Pereira Recomendações Técnicas para Execução da Inseminação Artificial Transcervical em Caprinos no Brasil . Circular Tecnica , Sobral. CE , jun 2018 . Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1092720/1/CNPC2018CT46.pdf . Acesso em: 14 nov. 2024 .

Nicacio Alessandra A inseminação artificial em tempo fixo (IATF) serve ou não para a minha propriedade? Embrapa . 2015 . Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/4227153/artigo-a-inseminacao-artificial-em-tempo-fixo-iatf-serve-ou-nao-para-a-minha-propriedade . Acesso em: 23 nov. 2024 .

Pfeifer Luis Francisco Machado et al IATF em blocos Uma nova alternativa para aumentar a taxa de prenhez de vacas de corte submetidas a protocolos de IATF . Circular Técnica Embrapa , Porto Velho/RO , 2015 . Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1033898/1/CT141IATF.pdf . Acesso em: 23 nov. 2024 .

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